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América, uma caixinha de surpresas

Foto: Anna Gabriela Malta

 

 

 

– A mídia não está sendo justa. Eu estava lá. Não dava para se mexer de tão lotado. – Não estava não. É só ver as imagens de 2009 e de sexta. A administração Trump está negando todas as evidências… e agora com esse papo de “fatos alternativos”? O que é isso?

  • Eu estava lá. Estava lotado de gente… Em um outro canto do vagão de observação a conversa era sobre a emoção de ter participado da Marcha das Mulheres, no último sábado, dia 21.01. Aparentemente ninguém esperava tanta gente! Confesso que nunca participei de um protesto tão grande. Alguns dizem 500mil pessoas.

Estou no trem de Washington para Chicago depois de ter participado desses dois eventos tão distintos: a posse do Trump e a Marcha das Mulheres. Já contei que adoro viajar de trem? Trens não são sobre ir correndo de um ponto a outro.  São viagens em si. Encapsuladas.

Nesse trem em particular – 18horas de viagem!, dois terços eram anti-Trump e foram à Washington exclusivamente para protestar – na posse e/ou na Marcha no dia seguinte.  Um terço era de eleitores de Trump que foram comemorar a vitória na posse na sexta-feira. Não podiam ser mais diferentes. Mas no trem sentaram juntos e aproveitaram a oportunidade para baixar um pouco a guarda e conhecer o outro lado.  Tempo era o que não faltava!

David é o típico eleitor do Trump – branco, 47 anos, nasceu em West Virginia e hoje mora em Ohio onde trabalha em sistemas para uma corporação de petróleo. Mora em uma casa grande no subúrbio e dirige dois carros – fez questão de mostrar as fotos. Foi a Washington comemorar. Finalmente o país estava se voltando para si.  Apesar da alegria de ter ganho a eleição e participado de um dos bailes de posse, o incomoda o sentimento de ódio em ambos os lados. Pergunta o que o futuro nos reserva se continuarmos a ensinar ódio e rancor em relação a quem pensa diferente de nós. Acredita que depois de Obama e Trump em algum momento os EUA encontrarão um ponto no meio do caminho.

Richard, 70 anos, vestindo roupas camufladas, gastas do tempo e com a barba por fazer é um  aposentado de Chicago. Foi à Washington para marchar em defesa da sua neta. Se emocionou ao falar sobre estar entre tantas pessoas protestando por direitos iguais – quando na verdade já era tempo de não precisamos mais fazer isso, contou ele. Sua filha, mãe da sua neta, é eleitora de Trump. Richard perguntou a ela por que? – Porque ele é um de nós. – Mas e Hillary, perguntei? Ela sim é uma de nós.  Ele fez que sim com a cabeça e encolhendo os ombros disse que é preciso que cada um ache a sua voz. Ele nunca tentou influenciar seus filhos, mas dar espaço para que eles se encontrem.

Duas Américas bem distintas e distantes entre si geograficamente – eleitores de Trump se concentram no meio dos EUA e nas cidades médias e pequenas, enquanto os liberais estão localizados nas costas e nos grandes centros. Ambos querem a América Great Again (slogan da campanha do Trump) mas acreditam que o que faz a América Great são coisas diferentes. Diferem basicamente em relação a tudo: imigração; impostos; saúde; educação e a lista continua…

 

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Foto: Anna Gabriela Malta

Durante a Marcha, no sábado, conversando com a Sally levantei a questão de uma parte da América ter encontrado eco em Trump. Ela disse estar tentando entender essa mensagem ainda. Ela acredita que a eleição dele deve dizer alguma coisa sobre uma parcela de americanos que se sentiram abandonados no meio do processo para tornar a América mais liberal e segura para todos. Que é preciso levar essa parcela em consideração e tentar entender como estão se sentindo.  Confessei a ela que fui a posse no dia anterior para tentar entender e conhecer de perto os eleitores de Trump (realmente estava vazia, mesmo comparando a segunda posse de 2013 do Obama), mas não consegui me conectar. E olha que tenho minha parcela republicana… Mas Trump é um animal a parte. Ele não é republicano ou democrata. Ele é Trump.  Pura e simplesmente. Com um quê narcisista que namora de perto o fascismo. Ele assusta. Assim como alguns de seus eleitores. São minoria, mas ganharam um megafone.

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Foto: Anna Gabriela Malta

Cheguei hoje à Chicago e já me apaixonei pela Windy City. Vamos ver se até o final da viagem consigo encontrar mais pessoas que possam me ajudar a entender essa nova America de Trump.

Sobre Anna Gabriela Malta (17 artigos)
Anna Gabriela Malta é fotógrafa documentarista e gestora da instituição sem fins lucrativos Sociedade Providência, dedicada a educação de crianças de baixa renda na Zona Sul do RJ. Acredita no trabalho de formiguinha para transformar o mundo através da educação e do envolvimento de cada um na sociedade. agmalta@gmail.com

1 comentário em América, uma caixinha de surpresas

  1. Maria Lucia // 24/01/2017 às 2:28 am // Responder

    Otimo relato.
    Ele é Trump ,isso mesmo . Nem democrata nem republicano.Realmente assustador e narcisista.
    Mas por que os americanos escolheram Trump??? Vai tentando descobrir pra nos elucidar rsrsrs

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