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Entrevista com Rodrigo Pimentel

foto : Divulgação

Rodrigo Pimentel, autor do livro Tropa de Elite, roteirista do filme Tropa de Elite e Tropa de Elite II; foi comentarista de Segurança para TV Globo por seis anos; é pós graduado em Sociologia Urbana pela UERJ. Hoje se dedica a uma pesquisa na série Neteflix, “O Mecanismo”, que relata os bastidores da Lava Jato, em parceria com José Padilha. Além de tudo isso, também ministra palestras no Brasil e no exterior. Ele abriu um espaço na agenda dele para conceder uma entrevista para o Linkezine. Com vocês, Rodrigo Pimentel!

 

 

Por Josué Júnior

 

Você foi um policial que entrou várias vezes em comunidades, para realizar operações. Hoje, quando vemos na TV um morador, que é vítima de bala perdida em confronto, todos os moradores descem e apontam a polícia como o principal culpado. Então, como poderia a polícia, minimizar tantos erros em confrontos?

Rodrigo Pimentel:

É bom esclarecer que nem sempre a bala perdida parte da arma de um policial. Em muitos dos casos relatados pela mídia, apurados em inquéritos, pela divisão de homicídios, foram constatados que os tiros partiram de armas de traficantes. No entanto, concordo que a morte de um civil inocente durante uma operação policial, seja por uma bala do trafico ou da policia é sempre uma tragédia e é possível minimizar esse risco . A principal forma de se evitar confronto, logo as balas perdidas, é atuar em operação policial em favela com força máxima. Esse conceito  foi muito aplicado durante a ocupação das UPPs. Um grande efetivo, superior a cem homens, com apoio aéreo de helicópteros, blindados (mais que um), entrando nas comunidades por vários acessos. Essa estratégia reduz em muito o ímpeto e a disposição de reação do trafico. Se realmente for necessário atuar em uma favela para recuperar cargas ou carros roubados, para prender criminosos já condenados, para apreender armas, que essa ação seja realizada com critério, planejamento, observando-se horários de menor circulação de pessoas nas vias e também longe de pátios escolares. Lembre-se que não ouve reação do trafico em nenhuma ocupação de UPP e centenas de traficantes foram presos, inclusive os chefes, na Rocinha, em Manguinhos, no Alemão e ainda muitos fuzis foram apreendidos, isso sem um único morador ferido.

 

Os problemas de segurança pública só aumentam, e a cada dia uma tragédia acontece. Se você fosse Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, qual seria sua primeira atitude, para começar a resolver o problema de segurança no Estado Fluminense?

Rodrigo Pimentel:

Apesar do aumento do números de roubos e homicídios na cidade do Rio, apesar da impunidade na aplicação das leis, onde bandidos presos pela policia portando fuzis, são postos em liberdade em menos de doze meses, as regiões da cidade que receberam implemento das Operações Presente (Lapa, Méier, Lagoa e Aterro do Flamengo) demonstraram queda significativa no numero de roubos e são, no momento, as regiões  mais “tranquilas” da cidade. É tarde para falarmos de politicas sociais que teriam resultados a longo prazo. O momento é de crise e o que está funcionando no Rio de Janeiro é policiamento ostensivo, e ele só ocorre justamente nas regiões da Operação Presente, que são policiais de folga, utilizando um colete colorido, de grande visibilidade, pagos com recursos da Fecomércio. Mas como aumentar o efetivo, em um Estado falido? A resposta é recuar com o projeto da UPP, retirando policiais das favelas e colocando nas vias expressas e nos corredores comerciais, extinguindo, pelo menos metade dos batalhões da policia militar. Cada batalhão tem em torno de cem policiais envolvidos em atividades administrativas, ou seja quanto menor o numero de quarteis, mais policiais nas ruas, recolhendo da assembleia legislativa, do tribunal de justiça centenas de policias emprestados a esses órgãos, que estão longe das ruas trabalhando como secretários e motoristas de autoridades. Medidas como essa, poderiam, em pouco tempo, duplicar o numero de policias nas ruas.

 

 

Foto com Wagner

Foto : Divulgação

 

 

Quando explodiu a crise no sistema carcerário, com duas chacinas no estado do Amazonas e Roraima, todos os holofotes se voltaram para essa crise. Nesses episódios lamentáveis, era briga de facções, porém, mesmo com todos os esforços feitos para debelar aquela situação, aconteceram várias barbáries.  O que ficou de aprendizado, caso outros episódios como esses aconteçam?

Rodrigo Pimentel:

Não ficou nenhum aprendizado. Essas crises são cíclicas. Já aconteceram  no Maranhão, em Mato Grosso e acontecerão novamente em outros Estados do país.

 

Continuando a questão acima, na sua visão, onde deveria ser feito o investimento para amenizar tantos conflitos do sistema carcerário?

Rodrigo Pimentel:

Na construção de unidades, inclusive com parceria privada, pra oferta de vagas no sistema carcerário, em condições de dignidade.

 

Os números na estatística de morte de policiais só aumentam a cada ano. Pode se dizer que os policiais trabalham no limite de uma pressão? Se sim, como ocorre essa pressão?

Rodrigo Pimentel:

A interiorização da violência com o advento do roubo a banco no interior, utilizando fuzis, tem sido a forma mais comum da morte de policias, em serviço, em todo o Brasil, exceto no Rio de Janeiro, em função das operações em favela. O colete a prova de bala não oferece proteção ao projetil do AR 15 ou AK 47. É fundamental hoje, uma legislação especifica para punir, com extremo rigor, quem usa dessas armas para matar  ou tentar matar  agentes da lei. Não que a vida de um policial tenha mais valor que a vida de qualquer cidadão, mas o policial de serviço e fardado, está muito mais exposto a esse tipo de crime. A pressão que o policial sofre hoje, tem relação direta com a impunidade. Prender  bandidos e vê-los de volta as ruas em pouquíssimo tempo. Um bandido preso com um fuzil, caso nao tenha outras anotações criminais , pode inclusive responder por este crime em liberdade. Isso é um absurdo.

 

Com tantos delitos de menores infratores, na lei da maior idade penal, para você bastaria apenas a aplicação do ECA, ou esse estatuto já está defasado, precisando ser reformulado com novas leis para o menor infrator?

Rodrigo Pimentel:

Para aqueles que operam com o Estatuto na ponta da linha, me refiro a guardas municipais e policias militares, que conduzem e prendem dezenas de  vezes o mesmo menor infrator, praticando o mesmo delito, no mesmo local, para esses operadores é evidente que tem algo muito errado na lei. Para eles, o ECA acabou por favorecer a impunidade e ainda possibilitou que adultos criminosos cooptassem adolescentes para pertencer a quadrilhas de  trafico de drogas, ou quadrilhas que roubam nas ruas. O Estatuto, na minha opinião, feito para proteger nossas crianças acabou por aproxima- lás mais do crime.

SLB

Foto : Divulgação

 

 

 

Para o bem do Brasil, a Lava jato vem cumprindo um papel importante. Você acredita que todas as condenações estão sendo realizadas de forma justa, ou nossas leis ainda não punem de forma exemplar quem desvia dinheiro público?

Rodrigo Pimentel: As condenações aplicadas pelo juiz Sergio Moro em Curitiba, e pelo Marcelo Brêtas, no Rio de Janeiro, estão sendo confirmadas e até mesmo, em alguns casos, majoradas pela instância acima, o que sinaliza, que os juízes estão sendo justos e criteriosos nas condenações. O uso da tornozeleira eletrônica, por criminosos condenados, em condomínios de luxo, contribui para um sensação de impunidade, mas que não chega a descreditar a Operação, que tem sido de extrema importância para o nosso país.

 

 

Com a prisão do ex – governador Sérgio Cabral, do empresário Eike Batista, e com o depoimento de ambos sinalizando que cometeram erros, agora o Brasil tem chance de crescer diferente.  Para alguns da população parece um deboche com a sociedade, para outros uma forma de desviar o processo. Para você o que representam tais confissões?

Rodrigo Pimentel:

Cabral não assume a culpa, apesar de milhões apreendidos em suas contas e Eike tentou, antes de ser preso, ludibriar os procuradores da Lava Jato com  um depoimento incompleto.

Na minha opnião, o ineditismo de um ex governador preso e denunciado doze vezes, demonstra a disposição do MP em acabar, ou tentar acabar, com a corrupção na politica carioca. No meio de tanta noticia ruim, algo bom se espera disso tudo.

Sobre Josué Bittencourt (1122 artigos)
Josué Bittencourt, carioca, pós- graduado pela faculdade Cândido Mendes. Atua no mercado com sua empresa Arte Foto Design é proprietário do site de conteúdo Linkezine. Registro Profissional: MTb : 0041561/RJ

2 comentários em Entrevista com Rodrigo Pimentel

  1. MARCIA SALIM // 27/07/2017 às 3:37 pm // Responder

    Sempre impecável fazendo o seu melhor,Parabéns Josué ,pela brilhante entrevista!

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