Texto : Bere

 

 

O que forma a nossa identidade? A genética, um documento, um país, uma classe social? Distantes da identidade tribal herdada, vivemos na era da diversidade e as possibilidades de ser se multiplicam. Nossa imagem ganha o protagonismo da nossa existência. Ela é o elo entre nossos registros e nomes e assim, aos olhos da sociedade, passamos de um número a um nome com rosto.

Entretanto, até que ponto somos o que de fato está registrado? As ferramentas de reconhecimento facial monitoram nossos caminhos e ações, mas o quanto essas tecnologias sabem além de uma combinação de cor de pele, olhos e formatos de rosto?

 

As redes sociais dão nova interpretação a esse questionamento, pois nelas  somos apenas aquilo que queremos mostrar. Além de uma nova oportunidade de ser, as máscaras que usamos na grande rede se tornam também um escudo: se online tudo é um constante palco, palanque, tribunal e divã, nos vestimos para participar à altura.

 

Interligados e conectados, nossas máscaras interagem em um plano alternativo ao que que de fato somos. Distorcemos e filtramos a realidade, para encontrarmos eco em nossas publicações. A pergunta no entanto é: o quanto do que vemos é realidade e o quanto é projeção? Não há dias nublados na vida daqueles que só postam mares cristalinos e passeios de barco? Não brigam os casais que juram amor eterno diariamente em uma rotina de romance constante? O quanto o fervoroso religioso que coloca deus em todas as frases vive as palavras que deseja?

 

Através de cores e formas que constroem a representação dessas máscaras, Berê Magalhães coloca em perspectiva a sombra e a luz entre o que vemos e o que interpretamos dessas fachadas. A possibilidade de todos poderem distorcer e reconstruir fatos, acontecimentos, corpos e rostos nos aproxima ou nos afasta?  Poder construir uma nova identidade em uma rede social é uma oportunidade com infinitas possibilidades, mas que pode trazer junto novas inseguranças, questionamentos e uma nova angústia de existir. 

 

 

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