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O provento da Fé

               

Fé, duas letras e tanto poder. Poder de mexer com multidões e transformar pessoas antes desencaminhadas, em pessoas melhores. Mas, a fé é também usada como arma pelos espertos, para ludibriar pessoas de boas intenções. É verdade que por séculos a religião foi usada para solucionar adversidades, mas também serviu para motivar conflitos entre nações, onde historicamente o duelo entre o bem e o mal gerou perseguições e morte. Com o tempo, o mundo evoluiu e tudo que era visto como verdade absoluta, virou pó. Com o surgimento de falsos messias e a disseminação do uso da fé, a religião deixou de ser um momento de conexão com o divino e passou a ser um produto poderoso e lucrativo. A venda de indulgências representa uma moeda de troca para aqueles que facilitarão o acesso do fiel ao paraíso, mediante claro, um dízimo bem generoso. Neste momento, os falsos profetas mostram sua verdadeira face. Propagam a fé, fazendo votos de humildade e apresentando-se como servos de Deus, mas na verdade tudo se converte, para bens materiais. Os religiosos que pregam a necessidade de desprendimento de valores materiais são, na verdade, os primeiros a se beneficiarem destes.

Nessa semana o Linkezine traz três personagens que representavam uma imagem para os seus seguidores, mas na verdade, por trás da pele de cordeiro existia um lobo, com dentes extensos.

O primeiro personagem é João de Deus, conhecido por suas curas espirituais e seu dom de mediunidade. Ao receber entidades realizava a melhora dos enfermos. Por muito tempo a região onde viveu João de Deus recebeu milhares de pessoas, com problemas de saúde e desacreditadas que encontraram ali a última esperança de cura. O desespero e a vulnerabilidade das pessoas era uma oportunidade para o médium, que de forma covarde usava deste benefício em prol de seus prazeres. Foram vários crimes cometidos por João de Deus e foram nove registros por crimes sexuais, sendo um com condenação, por quatro abusos. Os demais aguardam a devolução de cartas precatórias e foram crimes sexuais, falsidade ideológica, corrupção de testemunha e coação, posse ilegal de armas e munição que o levou a condenação de quatro anos, em regime semiaberto. Sua esposa, Ana Keyla Teixeira, também foi ré no processo, mas foi absolvida. Esse é o Homem de Deus que levava a palavra e a cura às pessoas que precisavam do seu alento. Cometeu o pecado capital da luxuria, combatido por Deus.

Já a pastora e cantora gospel Flordelis usou sua igreja evangélica para alçar voos maiores. Conseguiu se eleger deputada federal pelo partido PSL. Em nome da fé, pessoas lotam o seu templo religioso para ouvir suas pregações e muitos ainda acreditam em sua inocência. Até onde a religião pode mexer com a noção de certo e errado das pessoas? Segundo a investigação, Flordelis planejou o homicídio e foi responsável por arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime, sob a simulação de latrocínio. A deputada também financiou a compra da arma e sinalizou a chegada da vítima ao local onde foi executada, conforme denúncia. O principal motivo do crime seria o controle das finanças familiares e a forma como a vítima administrava conflitos familiares. Flordelis, segundo investigação, matou seu marido por ganância, um pecado capital combatido em sua pregação.

O último personagem desta matéria, padre Robson, era um homem que construíra uma igreja do zero, com ajuda dos fiéis e para tal construção arrecadava dinheiro dos membros da igreja. O problema é que para erguer um templo religioso nos padrões atuais é preciso um capital muito elevado, falamos em bilhões, valor revelado em entrevista ao Fantástico.

Essas também são as acusações feitas ao padre Robson pelo Ministério Público de Goiás, pelo suposto desvio de R$ 120 milhões em doações de fiéis. O dinheiro teria sido usado na aquisição de imóveis, entre os quais uma fazenda de R$ 6 milhões, em Abadiânia (GO) e uma casa de praia, no valor de R$ 3 milhões, em Guarajuba, Bahia. Os promotores apuram os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsificação de documentos e sonegação fiscal. Padre Robson cometeu o pegado da ganância.

Em nome da fé esses falsos messias usam a benevolência de seus fiéis em benefício próprio, prática que nunca sai de moda.

Ser uma pessoa de bem independe da sua crença ou religião, como praticar o bem, também. Sejamos luz para iluminar o nosso próprio caminho e o caminho dos nossos amigos e familiares, pois assim teremos nossa própria conexão com o divino.

Sobre Josué Bittencourt (1124 artigos)
Josué Bittencourt, carioca, pós- graduado pela faculdade Cândido Mendes. Atua no mercado com sua empresa Arte Foto Design é proprietário do site de conteúdo Linkezine. Registro Profissional: MTb : 0041561/RJ

2 comentários em O provento da Fé

  1. danielguimaraescosta // 02/09/2020 às 1:57 am // Responder

    Belo texto, querido Josué.
    O livro “Plano de poder” de Edir Macedo traduz muito como as religiões (como instituições) se tornaram grande máquinas de lavagem de dinheiro, se espalhando pelo mundo e promulgando um falso puritanismo. Baseiam-se na inocência e ingenuidade dos fiéis para vender a ideia da teologia da prosperidade. Seus líderes não passam infelizmente de falsos profetas, preocupados exclusivamente com seu enriquecimento ilícito e com questões mundanas. A famosa frase “Não adianta doar o cartão de crédito e não dar a senha” é difícil de engolir ou esquecer.
    Eu, nascido e crescido em meio católico, não posso afirmar nada além de lavagem cerebral. A ideia de um Deus à nossa imagem e semelhança não passa de uma mesquinhez humana para se autoafirmar como superior a todas as outras criaturas. No final somos todos falhos e a religião deveria nos ajudar no aprimoramento. Na prática, serve de máscara para esconder os verdadeiros equívocos e erros das pessoas mais nefastas sobre as quais já tive o desprazer de conhecer ou de saber a respeito.
    Quem deveria trazer a luz, continua a ofuscar a verdade com trevas. E o pior, propositalmente.

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