A temperatura aumenta e muitas instituições estão apoiando a democracia…

O ano que antecede as eleições presidenciais de 2022, até o momento, tem suas eleições realizadas por voto digital. Um mecanismo rápido que nossa democracia celebra, aplaudido por muitos países e considerado inquestionável, seguro e até o momento, único no mundo.

Prudente de Morais, primeiro presidente brasileiro, foi eleito numa época que o voto não era direito de todos. Menores de 21 anos, mulheres, analfabetos, mendigos, soldados rasos, indígenas e integrantes do clero eram impedidos de votar.

Nesse período da história da democracia é possível observar a existência da velha política, ou como cientistas políticos nomeiam “República da Espada”. O título tem origem na influência de Marechal Deodoro da Fonseca e Prudente de Morais que governava com uma espada ao lado, atitude nada compatível com uma democracia.

A história brasileira também passou pela República dos Coronéis. Eram grandes fazendeiros que ofereciam vantagens ao eleitor, em troca do voto no candidato de seu apoio, também conhecido como voto de cabresto. Assim era a Velha República, estabelecida nos anos de 1889 à 1930.

O governo de Getúlio Vargas propunha uma transformação em vários setores. Getúlio criou o Tribunal Superior Eleitoral e Tribunal Regional Eleitoral. Concedeu o voto feminino e determinou o voto secreto. A Era Vargas, conhecida como Estado Novo, representa um momento da nossa história, sem eleições. Em 1945 foram realizadas as primeiras eleições com participação de mulheres, que fizeram valer seu direito.

O tempo passou e com ele vieram momentos piores no Brasil. Convivemos com a ditadura, momento desagradável, mas ainda assim existia uma votação chamada biônica. Os chefes do Executivo Federal eram eleitos indiretamente, sendo alguns deles, eleitos por um colégio eleitoral. Já as eleições para o Legislativo Federal continuaram sendo diretas. O sistema partidário vigente era o bipartidarismo, instituído pelo Ato Institucional II, que considerou apenas ARENA e MDB como partidos legítimos. Tivemos o fim da ditadura, embalado pelo movimento “Diretas Já”. No início dos anos 80, o Brasil retoma a Democracia com o presidente Tancredo Neves. Mas o brasileiro só pode realmente sentir a liberdade democrática em 1989, com a eleição para presidente, onde Fernando Collor se tornou o primeiro presidente eleito, depois da era de chumbo.

Ao pensar em eleições é inevitável não pensar em votos. No passado essa apuração era realizada no papel. As fraudes eram visíveis e favorecidas. Para realizar a contagem de votos, existiam várias mesas em um ginásio cheio, dividido por placas e cordas, com vários fiscais, a verdadeira idade da pedra. Essas duas fotos retratam como era esse tempo.

É o retorno a esse tempo que Jair Bolsonaro e seus apoiadores pleiteiam. A pergunta é: “Qual a razão que move Bolsonaro a querer o retorno de um sistema tão arcaico e comprovadamente fraudulento?”. Essa é a pergunta que vale uma eleição. Bolsonaro ataca o STF, dia a dia. O Ministro Luís Fux, presidente do STF, reagiu cancelando um encontro entre o Presidente e o STF.

Vídeo da fala :

A temperatura aumenta e muitas instituições estão apoiando a democracia, deixando Jair Bolsonaro isolado. Artur Lira manteve a corda esticada, avisando que levará esse tema para votação no congresso. O tema será “Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso”, elaborado pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR). Brasília está em fogo alto e Bolsonaro alimentando essa combustão.

Espero que esse assunto tenha um fim e que esse fim seja a permanecia das eleições digitais, sem papel, conforme a democracia vem realizando. Finalizo com a fala do jornalista Gerson Camarotti: “Que o congresso faça um enterro de luxo nessa pauta de voto impresso”.  É o que o Brasil assim espera.