O quarto de Tais
Tais é um nome fictício de uma história real que o escritor e pesquisador, Antônio Genivaldo Feitosa, precisou usar em seu livro “Infâncias Abrigadas “, para contar as vivências que teve ao longo de três meses. Antônio fez sua pesquisa na Casa Abrigo, de Porto Alegre(RS) situada na cidade de Novo Hamburgo, uma casa de acolhimento para crianças em situações críticas. O escritor desenvolveu duas técnicas para a sua pesquisa uma delas foi trabalhar com fotografia, a outra foi o desenvolvimento de maquetes, onde as crianças precisavam recriar o ambiente onde viva e gostava dentro do abrigo, nesse momento proponho uma reflexão para um pedaço do livro dedicado a Tais, uma criança que na época da pesquisa tinha nove anos, para esse momento de reflexão nomearei de “O quarto de Tais”. O quarto de Tais não tinha luxo, muito menos decoração moderna, encontrado em todo quarto de menina em situação normal teria. A princípio o quarto no Abrigo é frio com uma estrutura padrão que o Estado fornece. Lá no Abrigo, Tais tinha uma beliche para dividir com outra menina, para o Estado essa é a única maneira de receber as crianças. O Estado entende que aquele espaço é apenas um rito de passagem, e por isso o investimento precisa ser zero, então para Estado a pequena Tais necessita apenas de um lugar para dormir, esquecendo que toda criança tem sonhos e desejos infantis, que necessita de acolhimento. Dentro desse acolhimento são necessários vários entendimentos, e um deles passa por uma apresentação de mundo menos frio e mais afetivo, mas para Tais o pequeno espaço de dormir da Casa Abrigo é apenas para dormir. Esse rito de passagem é assim, frio e seco.
O Estado, tem essa dura realidade, e infelizmente mesmo com tantas políticas públicas elas ainda não atingiram as novas gerações de menores em situação crítica. Com essa realidade dos abrigos para menores, a volta para o seu meio ao completar a maior idade, fica comprometida pelo simples motivo que a raiz do problema não foi resolvido. Primeiro a família não acolheu da forma devida e tratou a criança como adulto, tendo como rejeição e abandono os primeiros afetos. A forma como o estado deveria tratar a criança precisaria ser mais afetuosa, preocupada com suas fantasias e necessidades sociais que ajudarão em um saudável desenvolvimento. Mas a criança também é tratada como um adulto, sem levar em conta sua situação infantil e ainda imatura para compreender muitas realidades da vida adulta, e dessa forma o problema não fica resolvido ali no ambiente da Casa de Abrigo. Essa é a realidade encontrada em quase todos os estados da federação brasileira, e muitas das vezes o pouco que se tem é muito. No caso de Tais, ela marcava seu espaço de dormir para criar uma identidade com o local, e no livro ela faz essa breve narrativa:”No quarto que morava com a minha família tinha rádio, Tv e computador. Mesmo assim gosto do meu quarto. Gosto da boneca na porta do quarto, que identifica o dormitório das meninas.”, a fala de Tais. Nela fica clara a necessidade de se criar uma identificação, além da boneca na porta do quarto, e seu nome gravado na cama como forma de autoidentificação e acolheminto que ela criava na sua cabeça juvenil. O Estado precisa criar outros mecanismos para acolher crianças em situações críticas, pensando no futuro das novas gerações de brasileiros que sofrem e sofrerão com abandono e rejeição. Nesse vídeo o escritor Antônio Genivaldo Feitosa explica um pouco do seu livro.
Vídeo:
O livro poderá ser encontrado na Livraria Kitabulivraria no ponto de venda : @kaza123_ / Instagram
Email: antoniofeitosa@gmail.com
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