Toffoli para Lula
Para quem ainda não sabe, o Ministro Dias Toffoli traçou sua caminhada, por muitos anos, próxima ao Lula. Essa aproximação começou bem cedo, ainda jovem, lá pelos anos 90, quando foi assessor jurídico da liderança do PT, na Câmara dos Deputados e consultor da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT. Já no início dos anos 2000, ele foi assessor jurídico da vitoriosa campanha de Lula, primeira eleição que Lula sai vitorioso. Sua atuação na campanha garantiu a ele, o posto de subchefe em assuntos jurídicos da Casa Civil, trabalhando com o lendário José Dirceu. Sua acensão ao STF foi em 2009, aos 41 anos, sendo conduzido pelas mãos de Lula.
A história do Ministro Dias Toffoli precisa ser narrada em dois momentos: antes e depois da sua ligação com o PT. É necessário entender o quão são profundas as raízes que o Ministro apresenta junto ao partido. Existem muitas especulações sobre as atuações do Ministro Dias Toffoli e a forma como ele conduz suas decisões muitas das vezes são contestada pelo próprio PT. E, justamente uma dessas decisões fez Lula sentir esse duro golpe de Toffoli. O Ministro negou a Lula, a liberação para acompanhar o enterro de Vavá, irmão do presidente. Este fato ocorreu em janeiro de 2019, momento em que Bolsonaro acabara de assumir a presidência, e Sergio Moro era nomeado Ministro da Justiça. Naquela época, a Lava-Jato ainda fazia eco e estremecia o Brasil. Para a surpresa de muitos, aquele que gritava por justiça em palanques eleitorais, pedindo a prisão dos criminosos apontados pela Lava-Jato, foi o primeiro a enterrar a operação. Muita água correu por baixo da ponte depois que Sergio Moro deixou a justiça federal, para ser Ministro da Justiça. Sua conduta foi julgada como parcial pelos Ministros do STF e hoje ele se encontra com a corda no pescoço, vendo a possibilidade de ter sua candidatura caçada. O mundo do ex-juiz Sergio Moro deu uma volta de 360°. Pegando carona nessa volta e, aproveitando a oportunidade, indico o conteúdo de um vídeo curto, com um pouco mais de um minuto, apresentando Emilio Odebrecht, em sua delação premiada. Esse vídeo gravado há seis anos pode ser apreciado, na íntegra, pelo Youtube. Mas, uma fração dele é suficiente para ilustrar o teor da sua delação. Simplesmente, Emílio informou que o esquema de corrupção já ocorria há mais de trinta anos e que os membros do PT teriam uma boca de crocodilo.
É possível ver seu advogado com a mão na boca, claro sinal de alerta para ter cuidado naquilo que estava falando. Com esse vídeo e as provas robustas de tudo que foi realizado pela Lava-Jato, fica a questão: como Dias Toffoli pode exercer, de forma monocrática, uma decisão como essa?
Tofolli fez as seguintes considerações:
“É necessário respeitar-se o trabalho de dezenas de membros do Ministério Público Federal que atuaram no acordo de leniência firmado com a empresa Odebrecht, magistrados de diversas instâncias, policiais federais, agentes públicos da CGU e Receita Federal, dentre outros que agiram no estrito exercício de suas atribuições funcionais, com resultados financeiros concretos, revertidos aos cofres públicos”.
Além da anulação das provas, Toffoli determinou que a 13ª Vara Federal de Curitiba e o MPF (Ministério Público Federal) do Paraná compartilhassem, com a defesa do presidente, a íntegra de todos os conteúdos obtidos no acordo de leniência da Odebrecht. O resumo dessa operação é que o vídeo realizado na época por Emilio Odebrecht não será mais computado como prova. Nesse vídeo Emilio está acompanhado de seu advogado. Ele fala de forma clara e tranquila, tendo total liberdade e discernimento do seu ato. Essa delação é uma das provas que se tem contra a poderosa Odebrecht. Caso Dias Toffoli tenha êxito em seu intento, talvez Lula o perdoe por não permitir assistir ao enterro de seu irmão.
Lula, depois desse episódio, nunca mais olhou nos olhos de Toffoli como antes, também nunca mais o chamou de companheiro, uma gíria usual para os próximos do mandatário do Brasil. Será que essa decisão monocrática de Dias Toffoli poderá trazer a velha amizade de volta? Isso só o tempo dirá,e assim vamos continuar a assistir, petrificados, a volta daquilo que um dia combatemos, a corrupção.
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