As comédias (e tragédias) de Peter Sellers
Quem tem mais de 30 anos certamente deu muitas risadas com as trapalhadas protagonizadas por Peter Sellers no cinema. As aventuras do inspetor-chefe Jacques Clouseau na série de filmes “A Pantera Cor-de-Rosa” povoam a mente de diferentes gerações. O ator inglês arrancou gargalhadas de plateias de todo o mundo dos anos 1960 a 1980, ano de sua morte. Uma das maiores provas da versatilidade de Sellers foi a sua múltipla e brilhante participação no clássico “Dr. Fantástico”, de Stanley Kubrick, filme que sempre merece ser revisitado. Entretanto, é somente no longa “A Vida e Morte de Peter Sellers”, uma espécie de biografia do ator, que o público conhece o homem por trás dos personagens.
Baseado no livro homônimo de Roger Lewis, a produção de 2004, estrelada por Geoffrey Rush e dirigida por Stephen Hopkins, mostra o “Lado B” da personalidade de Sellers. Enquanto empilhava sucessos nas telonas, a vida particular do astro era tomada pelo caos. Além do talento inerente, a facilidade para criar personagens marcantes pode ser atribuída, em parte, a uma eterna fuga da realidade empreendida pelo ator. As dificuldades em lidar com a fama, as paixões platônicas e a falta de percepção sobre as próprias qualidades e defeitos eram os ingredientes explosivos que corroíam sua personalidade.
Talvez por isso, a identificação de Sellers com o personagem Chance, do filme “Muito Além do Jardim”, que lhe rendeu uma indicação de melhor ator ao Oscar em 1980, foi imediata. O jardineiro, totalmente alheio aos acontecimentos e “vazio” por dentro, era a imagem espelhada de Sellers. Afinal, o drama protagonizado pelo “desconectado” Chance reverberava na própria existência de seu intérprete. Dar vida ao jardineiro fez com que Sellers encontrasse a sua essência e as suas verdades mais íntimas. O resultado dessa experiência não poderia ser diferente: ele exibiu ao mundo uma de suas atuações mais convincentes.
Sellers transitava com desenvoltura entre o drama e a comédia. Ainda bem que o caos da vida particular ficou bem longe das telas. A comicidade de Sellers (que, muitas vezes, arrancava risos com um simples olhar) é eterna. O inconfundível sotaque do inspetor-chefe Clouseau e as bobagens feitas protagonizadas em “Um Convidado Bem Trapalhão” ainda encantam o público de todas as idades. Então, caso você tenha menos de 30 anos e nunca tenha visto um filme com Peter Sellers, fica o conselho: assista o quanto antes, você não vai se arrepender!
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