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Entrevista com Carlos Santiago.

Foto : Josué Júnior / Projeto: "Olhares da Perda "

 

Carlos Santiago, psicólogo, carioca, juntamente com  Cleyde  Prado Maia Ribeiro  é idealizador do Movimento Gabriela Sou da Paz.
Pai que viu sua vida ser transformada de uma hora para outra pela dor e pela perda. Depois do falecimento de Cleyde Prado Maia Ribeiro, Carlos Santiago Ribeiro passou a liderar sozinho o Movimento Gabriela Sou da Paz, dedicando 90% de seu tempo exclusivamente a ele.
Atualmente realiza ações de cunho sociais, participa de manifestações públicas em prol da paz, participa de seminários, conferências e palestras, com sua experiência auxilia familiares de outras vítimas, prestando inclusive apoio emocional e psicológico devido a sua formação acadêmica.
Entrevista  Carlos Santiago                                                                      Por Josué Júnior

 

 

2003 foi um ano triste para você.Como foi seguir em frente sem a Gabriela ?

Carlos Santiago :Muito complicado. Mas tinha o objetivo de mostrar as pessoas os sonhos dela e o mal que a violência traz para toda uma família e ainda o trauma nas suas amigas (os) de adolescência.

Na sua luta contra o fim da impunidade, você produziu um projeto de lei que trata da alteração de 6 itens da legislação, os quais considera essenciais para a redução da impunidade em nosso país.Você pode citá-los? Houve o seu cumprimento?

Santiago :

1) Acabar com a aplicação do conceito de “crime continuado” aos casos de homicídio.
Pela legislação atual, matar várias pessoas ao mesmo tempo equivale a matar uma só. Exemplo prático: na chacina de Vigário Geral foram assassinadas 21 pessoas, mas a lei unifica essas 21 mortes e considera que os assassinos praticaram um único crime: 21 vidas passam a valer uma só.

2) Acabar com o protesto por novo júri.
Embora o código Penal diga que a pena máxima é de 30 anos, na prática ela é muito menor: por mais bárbaro que seja o crime cometido, os juízes não costumam condenar ninguém à mais de 19 anos e alguns meses. Pela legislação atual, se condenado à mais de 20 anos, o réu tem direito imediato à um segundo julgamento, que ainda pode ser postergado por muitos e muitos anos.

3) Fazer com que a aplicação de benefícios seja baseada no tempo total da condenação.
Pela legislação atual, mesmo que a soma dos delitos praticados tenha resultado numa pena de 40, 50 anos, os criminosos cumprem, em média, cinco a seis anos no máximo, porque os benefícios são concedidos tomando como base os 30 anos que a lei estabelece como pena máxima, e não o total da pena a que foram condenados.

4) Estipular que o trabalho seja condição para a concessão de benefícios.
Para que o preso tenha direito a benefícios, como livramento condicional e os regimes semi-aberto e aberto, deverá trabalhar. Caso não queira, cumprirá sua pena integralmente. A proposta de estabelecer o trabalho como condição para a concessão de benefícios traz, na prática, grandes vantagens para o preso, porque só o trabalho pode contribuir para sua re-socialização e para uma maior humanização da vida na cadeia. A medida obrigaria o estado a incluir, nos presídios novos que estão sendo construídos, condições para que esse item possa ser cumprido.

5) Impedir o condenado pela prática de crime hediondo de recorrer em liberdade.
Quem já foi condenado a mais de quatro anos de prisão, por qualquer crime, e venha a cometer um crime hediondo, deve cumprir a nova pena em regime integralmente fechado. E aquele que for condenado por crime hediondo, pelo Tribunal do Júri, deve ser imediatamente preso, não podendo recorrer da sentença em liberdade.

6) Não conceder o benefício de indulto ao condenado por crime de tortura.
O indulto é um ato de clemência do Poder Público. É uma forma de extinguir o cumprimento de uma condenação imposta ao sentenciado desde que se enquadre nos requisitos pré-estabelecidos no decreto de indulto, expedido na época da comemoração do Natal. Condenados por crime de tortura não devem ter esse benefício.

 

 

Já houve sim, a aprovação de 2 dos 6 itens. Por exemplo: Hoje já não existe mais o “protesto por novo júri”

A cada dia vemos mais vitimas de  violência nas ruas, sendo que  os números não param de crescer.Essa conta a gente vai cobrar de quem? Governo Federal, Estado ou Município, afinal,   quem é o responsável?

Santiago: A sociedade. Ela é a grande responsável.  Ela é omissa e só se mobiliza pela suas próprias conveniências. Ainda não temos uma cultura de exercício de cidadania.

 

 Você acredita em dias melhores?

Santiago : Sim, lógico. Sempre fui uma pessoa bastante otimista. Não seria a perda da Gabriela que me faria desacreditar em tudo que ensinei a ela.

 

Redução da maior idade penal, você é contra ou a favor? E Por que?

Santiago : Contra. E arrumei muitos “inimigos” pelo meu posicionamento. Tenho várias vítimas de violência dentro do Movimento Gabriela Sou da Paz que tiveram a vida de um ente querido ceifado por um menor de idade. A grande maioria não entende as razões de eu ser contra a redução. Mas aqueles poucos que foram vítimas de menores e conseguem me entender é gratificante. Pensam num futuro melhor e justo, apesar da dor da perda.

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Foto : Josué Júnior / Projeto “Olhares da Perda “

  Você é um símbolo de resistência para muitos que acreditam em justiça.Como é confortar cada família que chega até você com a mesma história que já passou?  

Santiago :Esta relação é uma via de mão dupla. Me sinto muito bem conversando com quem sabe exatamente o que sentimos. Como psicólogo tive a oportunidade de superar obstáculos que imaginava serem intransponíveis e mostro isto as vítimas para elas poderem levar a vida adiante da melhor forma possível.

 

 Você acredita no Brasil?

Santiago : Isto é uma lição que aprendi com a Gabriela. Certa vez na Disney, ela antes de ir para um dos parques, abriu a mala e tirou uma bandana com as cores da bandeira do Brasil estampada e botou na cabeça. Eu disse pra ela: Está doida, estamos na América e você com bandana do Brasil. Ela retrucou: Ainda vamos ser muito melhores que eles.

Como eu não iria acreditar no Brasil. Acredito sim e a prova disto é o quanto as pessoas ainda se lembram da Gabriela e da sua história.

quem-somos

Foto : Divulgação

Carlos Santiago?Qual o recado que você deixa para os governantes e magistrados desse país?

Santiago : Impublicável. Talvez a saída fosse uma renuncia coletiva, de A a Z. Muitos acham que só os militares podem reverter verdadeiramente o quadro atual que nos encontramos. Eu “ainda” acredito na democracia

Sobre Josué Bittencourt (1127 artigos)
Josué Bittencourt, carioca, pós- graduado pela faculdade Cândido Mendes. Atua no mercado com sua empresa Arte Foto Design é proprietário do site de conteúdo Linkezine. Registro Profissional: MTb : 0041561/RJ

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