Lula entre ouvidos
Quando as portas do gabinete presidencial se fecham, inicia uma nova missão para os assessores de Lula, a difícil tarefa de reparar as falas espontâneas que o atual presidente suscita em seus discursos. Lula tem o hábito de conversar com muitas pessoas, porém só escuta poucos ou melhor, só ouve quem ele julga merecer ser ouvido. Essa forma de agir não é novidade para o povo brasileiro, isso já foi presenciado em 2003, 2007 e agora em 2023. Esse hábito de só ouvir quem ele quer gera um problema fácil de entender: vivemos em uma nova sociedade, repleta de novos conceitos que não aceita determinadas atitudes. Mas ninguém consegue distanciar Lula dos velhos hábitos, muito menos os antigos companheiros dos tempos em que o PT era “o PT”, com várias figuras carismáticas que sabiam demovê-lo de suas atitudes intempestivas.
Essa introdução é uma forma de apresentar o antigo Lula dos novos tempos. O antigo Lula carismático e “engatador de serpente” – como diz Ciro Gomes – continua firme e forte! O que também continua firme e forte são suas atitudes fora de hora que causam várias arranhaduras políticas. Nesse momento, estamos vivendo uma queda de braço entre o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto e o presidente Lula. Entre ouvidos é perceptível a forma como Lula finge não saber o nome de Roberto Campos, chamando-o de “aquele rapaz” e antes mesmo disso, já o chamava com uma expressão um tanto quanto pejorativa “esse cidadão”. Podemos dizer que melhorou? Acho que não! Ele só substituiu a forma de chamar.
Roberto Campos vive cada dia, um dia. Ele vem travando essa queda de braço e a faz pra valer! A cada minuto, sua independência a frente do Banco Central (BC) fez subir os juros da taxa Selic para 13,75% – uma taxa duríssima. Roberto Campos irrita o governo e ganha alguns aliados. O Senador Plinio Valério do (PSDB – AM) realizou uma fala para validar as atitudes do presidente do BC – “A perigosa guerra aberta hoje pelo presidente Lula, contra a autonomia do Banco Central e seu presidente Roberto Campos, aliada às medidas inconsequentes do ministro da Previdência Carlos Lupi, em baixar os juros dos créditos consignados na canetada, vão levar o País à bancarrota e a trilhar o perigoso caminho da Argentina e Venezuela”.
O Senador Plinio Valério (PSDB – AM) é o autor da lei que dá autonomia ao Banco Central. Essa declaração dada pelo Senador valida a atuação de independência em que Roberto Campos vem atuando. Vivemos novos tempos? Será? Tempos idos e onde o senador afirmou que era o PT que pedia essa independência. Esse é o PT dos novos tempos, sendo contraditório ao seu pensamento para tentar se manter em pé. Para muitos especialistas o que está faltando é o arcabouço fiscal, a apresentação e votação do arcabouço fiscal pode dar um fim a todo esse imbróglio e tudo indica que acontecerá em abril, até lá, teremos muitos enroscos.
No campo político não existe nenhuma novidade, o que existe é somente a disputa entre Lira e Pacheco que está dificultando toda negociação ao seu entrono, uma negociação no legislativo faz todo esse ruído fora. Os deputados e senadores precisam fazer sua parte para que exista um bem comum, e esse bem comum é a economia brasileira, enquanto existir esse cabo de guerra por emendas e negociações para alavancar “sicrano e fulano”, o país não vai andar.
Não adianta também ministros apresentarem ideias geniais que nunca serão concretizadas. Marcio França foi primeiro a ter sua orelha puxada em reunião, quando negociava passagens aéreas por 200 reais a idosos e estudantes, quebrando toda uma cadeia hierárquica. Outro ministro a ter uma genialidade isolada foi Carlos Lupi ao falar em juros para consignando a 2%. Pelo visto estamos em nova era, saem as “fake News” e entram as factoides, assim o brasileiro não aguenta. Nessa briga de cachorro grande só resta ao brasileiro pedir para que os políticos parem de brigas e que pensem apenas de forma técnica e clara para que a razão e os números possam ser o melhor argumento neste momento. Só assim, nós, seres mortais, conseguiremos atravessar esse período ruim que pode piorar, caso não se dissipem logo essas brigas politiqueiras.
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