GENTE ENTRE A GENTE
Outro dia estava aguardando meu capuccino para me aquecer num dia atipicamente frio no Rio de Janeiro, quando o cumprimento de um atendente da lanchonete me chamou a atenção. Não foi um “boa noite” desses que ofertamos com educação para atender aos protocolos sociais. Havia um certo conteúdo, algo como “eu vejo você” recíproco. Sem cunho afetivo, uma simples troca em nível de percepção.
Daí comecei a observar as pessoas que estavam ao meu redor… outros estabelecimentos comerciais ao fundo e seus atendentes. Uma pergunta surgiu de supetão, sem pedir licença: Com que frequência as pessoas em nossa volta são enxergadas?
Há um bom tempo já venho exercitando a arte da empatia, imagino que não seja à toa que escolhi a psicologia e as práticas terapêuticas como profissão. Também estagiei com mestres da vida que me ensinaram a olhar além do que parece ser. Uma querida amiga, anos atrás, divertia-se com a minha surpresa ao desvelar a mim os sentimentos e pensamentos de pessoas em shoppings, nas ruas, enfim, em qualquer lugar, apenas através da observação.
Imagino que, para quem não está habituado, pode até parecer bruxaria ou coisa do tipo, mas, acredite, não só as bruxas detêm esse poder. Todos nós temos a capacidade de observar e de sentir. Quando enxergamos o outro com atenção e buscamos nos traços do seu rosto, na sua respiração e no seu olhar o sentimento que vive ali, num relâmpago de tempo, colocamo-nos em seu lugar e sentimos como se fôssemos o próprio. Podemos nos deparar com lagos serenos ou mares revoltos, é preciso cautela para não mergulhar nessas águas.
Talvez você esteja se perguntando qual a finalidade dessa prática. Fato é que não queremos ser relegados a coisas nem números. Somos gente. Perceber gente entre a gente nos recoloca no lugar do humano. Humaniza os nossos corações. Os julgamentos perdem força. Não estamos sós. Não precisamos fazer coisas mirabolantes para pedir atenção. Não precisamos ser “o cara”. Apenas somos. Eu vejo você. Você vê a mim.
Gratidão.
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