Entrevista com o Senador Cristovam Buarque
O Senador Cristovam Buarque, é um homem que tem uma bela trajetória de vida. Vivenciou e vivencia a vida politica do nosso Brasil. Já foi candidato a Presidência da República em 2006, e hoje, se o partido quiser, está pronto para ir ao pleito. Convido a todos para conhecerem essa bela história de vida e carreira política, que ainda tem muitas laudas para serem escritas. Venha conhecer o Senador Cristovam Buarque.
Por Josué Júnior
Senador, o senhor é um homem pleno com uma história rica, e ainda tem muito a realizar. Nos tempos da Ditadura o senhor conviveu com grandes homens que hoje não estão mais entre nós. Cito aqui Betinho, Henfil, Don Hélder Câmara, Celso Furtado, Darcy Ribeiro e Brizola. Qual desses homens faz falta no Brasil de hoje e por quê?
Cristovam Buarque :
Desses eu não conheci pessoalmente o Henfil. Os outros conheci, convivi e trabalhei, sobretudo, com Dom Hélder. É difícil dizer qual desses faz mais falta. Por exemplo: É claro que Dom Hélder faz falta, como uma liderança moral que o Brasil não tem hoje. Sempre tivemos uma liderança moral, além dos políticos. Hoje não temos líderes políticos que tenham força, assim como não temos líderes morais.
O Celso Furtado faz falta para pensar como sair da crise econômica e ele era o homem capaz de formular um caminho.
O Darcy faz falta pelo lado da educação, de vender a ideia de que educação é o caminho para fazer a coesão da sociedade brasileira e dar um rumo para a nação.
Finalmente o Betinho, pela solidariedade que ele representou. Era o símbolo da solidariedade que, naquela época, tiraria os pobres da fome. Hoje, ele poderia sim nos ajudar com uma grande campanha para colocarmos os filhos dos pobres nas mesmas escolas que os filhos dos ricos.
Embora o senhor tenha vindo de família de classe média baixa, fez mestrado em Economia na Sorbonne e trabalhou no BID, em uma época onde a Ditadura existia no Brasil. No seu retorno ao Brasil, ainda na Ditadura, o senhor conseguiu um fato inédito para a época, sendo eleito Reitor da UNB, onde realizou muitos programas sociais. Olhando para os dias de hoje, qual o programa social que o senhor retomaria para o bem do Brasil?
Cristovam Buarque :
Primeiro, sou filho de uma família de classe média baixa, mas não de uma família pobre. Sempre tive o que era preciso. Mas, sobretudo, sempre tive livros em casa. Meu pai e minha mãe não terminaram a quarta série primária. Mas liam. A minha avó era analfabeta, mas nos incentivava a estudar. Minha mãe também, mas meu pai, muito mais. Ele lia o jornal no seu dia de folga, aos domingos, e debatia com gente. Isso foi fundamental para a minha carreira. Lembro que trabalhei com meu pai, que era vendedor comercial e certa vez, na loja de um cliente, disse: ‘seu pai é um grande homem e você vai seguir o rumo dele. Eu, aos 16, fui pretenciosos e disse: não, vou estudar. Meu pai soube do ocorrido, me elogiou e disse: ‘fez muito bem em dar aquela resposta’.
Quanto ao projeto, eu faria o programa da bolsa com a escola. Mas, não a bolsa com escola, pelo dinheiro. Isso é secundário. O fundamental não é o dinheiro e sim a escola. Eu levaria adiante o que faltou, que seria um programa de Federalização da educação de base no Brasil. Fazer com que todas as escolas do país, não importando a cidade e a renda. As pessoas teriam a mesma qualidade que tem hoje as nossas quinhentas e poucos escolas federais. É isso que acho que é a missão que não consegui levar adiante. Não consegui cumprir. Como Ministro da Educação, ainda tentei em 29 cidades. Mas fiquei apenas doze meses. Só começamos a transferir os recursos para essas cidades já no fim de novembro e começo de dezembro. Em janeiro deixei o cargo.
Acredito que teria conseguido fazer com que a criança que viver no Brasil saiba que vai ter a escola com a mesma qualidade não importando a renda da família, da cidade ou do estado.

Foto : Divulgação
Hoje o futuro do país passa pela Reforma Trabalhista e Previdenciária. O senhor acredita que, se as duas reformas passarem teremos uma segurança para a população mais carente? Essas reformas beneficiam realmente o trabalhador? Se sim, como?
Cristovam Buarque:
O Brasil precisa das reformas. São boas e perfeitas? – Não. Mas podemos aprovar projetos de lei que possam corrigir as falhas existentes. Afinal, o Brasil é muito maior do que os políticos o governam e o país tem muita pressa.
Acompanhei todas as audiências públicas da reforma trabalhista no Senado. Quando voto, sempre penso numa certa ordem para tomar decisões. Primeiro, o interesse do Brasil, do futuro e do progresso. Segundo, o interesse dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados. Terceiro, dos jovens e das crianças. Quarto, dos trabalhadores empregados. Eu coloco essa hierarquia. E, quinto, das necessidades estruturais que o país precisa.
Hoje, os jovens estão sem perspectiva, os desempregados sem alternativas e os trabalhadores ainda empregados estão ameaçados pela concorrência no exterior. O nosso Hino fala em gigante deitado em berço esplêndido. Na verdade, somos o gigante amarrado em um conjunto de regras, de leis que não nos deixam sair na frente diante das maravilhas do progresso, mas que criam tensões, que dificultam a vida de cada um de nós.
Se as reformas tivessem sido feitas há 15 anos, o Brasil estaria numa situação diferente no cenário internacional e ainda seria possível unir o progresso técnico ao social, por meio de leis que seriam implantadas ao longo do tempo. Precisamos soltar este país que está amarrado. Temos que adaptar os direitos à realidade do processo do avanço técnico, que vem e passa por cima de tudo, através do desemprego, da informalização, da precarização. A lei trabalhista não vai ‘precarizar’ mais do que já está, porque isso é impossível.
Sobre a reforma previdenciária, se tivesse escolha, iria preferir que as alterações afetassem apenas os novos trabalhadores, mas compreendo o enorme custo fiscal que isso representaria ao país.
Entendo que a Proposta de Emenda Constitucional, encaminhada pelo governo, visa resolver a sustentabilidade do sistema previdenciário. Infelizmente, a PEC contém uma série de situações adversas que geram restrições, em especial para algumas carreiras como a dos professores e dos trabalhadores rurais. O parecer aprovado traz questões controversas que precisam ser repensadas, como por exemplo, a regra imposta para a transição dos servidores públicos, em especial os que entraram antes de 2002.
Na minha opinião, a proposta aprovada na comissão especial da Câmara dos Deputados traz avanços na proteção dos direitos de algumas categorias em especial dos professores, trabalhadores rurais e policiais, que ainda necessitam de aprimoramento.
A guerra de contrainformações e as mudanças previstas com a reforma estão causando certo temor na sociedade. Existem sérios problemas de financiamento e sustentabilidade nas contas da Previdência Social, que precisam ser examinados com seriedade, honestidade e maturidade para o bem do Brasil.
Estamos vivenciando um momento histórico para o Brasil. A operação Lava-jato aproximou o povo brasileiro do cenário político, e o fez abandonar o papel de expectador, passando a atuar na cobrança por mudanças efetivas na condução política, seja na ética, na transparência ou no fim da impunidade. Esse poderá ser o grande legado da operação Lava-Jato para o povo brasileiro?
Cristovam Buarque:
Temos que reconhecer o importante papel dos membros do Ministério Público e do Judiciário na luta contra a corrupção e em defesa da seriedade na política brasileira. Não apenas a operação Lava Jato, por sua imensa dimensão de ataque às maiores autoridades, lideranças e empresários, mas também pelas centenas de operações menores, que estão tentando moralizar prefeituras e estados.
Por todo o território nacional, um verdadeiro exército está, apesar de alguns exageros, vaidades e egos, promovendo uma guerra de grandes proporções e certamente com grande impacto na moralização da política brasileira, denunciando e julgando a corrupção no comportamento de políticos.
Nossos procuradores e juízes, com o apoio dos políticos federais estão fazendo sua parte na luta contra a corrupção, mas o resultado final vai depender de cada cidadão. Afinal, o sistema Judiciário pode prender um corrupto, mas são os eleitores que escolhem os políticos honestos.
Thomas Jefferson citou uma vez que a Constituição pertence aos vivos e não aos mortos. Em 2016, a Constituição completou 28 anos de existência, e junto com ela foi comemorado o Centenário do Dr. Ulysses Guimarães. O que falta na nossa constituição ao seu olhar?
Cristovam Buarque:
Faltam deveres. Fizemos uma Constituição que nos retirava da Ditadura. Então, a preocupação de todos era garantir os direitos que o regime tinha retirado. Mas esquecemos que sem os deveres de cada um, os direitos ficam inviáveis. Porque sem recursos não podemos garantir nada.
Um bom exemplo é a saúde pública. Na Carta Magna garantimos Direito à Saúde, inclusive com o SUS. Para os funcionários da Saúde foram tantos direitos que se não quiserem prestar um serviço aos doentes, por terem estabilidade, nada acontecerá e irão continuar com seus empregos. Naquela época, quem tinha condições de pressionar os constituintes, no caso os representantes de classes, conseguiu garantir direitos.
Tivemos um momento em que a Lava Jato foi alvo de partidos que estavam no governo. Muito foi falado e até questionado sobre os motivos das prisões e das denúncias. Hoje o cenário é outro, e as investigações continuam em um ritmo forte, revelando novos crimes. O senhor acha que esse primeiro momento atrapalhou o andamento da Operação? Fala-se muito que o novo Ministro da Justiça, Torquato Jardim, poderá conter a Lava Jato, o senhor acredita nisso?
Não. Absolutamente. A Java Jato caminha em seu ritmo e eu acredito e espero que ela siga sem interferências de quem quer que seja.
O senhor já foi candidato à Presidência da República em 2006, tendo como adversário, na época, Lula da Silva, que foi o candidato eleito. Hoje o senhor teria vontade de concorrer a novo pleito presidencial?
Cristovam Buarque:
Depende o que quer dizer a palavra vontade. Se vontade é força para isso? – Eu tenho e, claro, se meu partido quiser. Se vontade é: estou atrás disso? – Não. Eu não estou e não vou atrás. Mas se houver a possibilidade, a necessidade e o chamamento eu estarei presente.
O Brasil está em uma crise política, e quase saindo de uma crise econômica; um reflexo de uma eleição conturbada, que gerou graves prejuízos para o país. O que o senhor imagina que pode sair das urnas em 2018, para os próximos 4 anos?
Cristovam Buarque :
Acredito que o debate eleitoral do país, no próximo ano, não será pautado por questões relacionadas à luta de classes, mas à luta entre gerações e de categorias profissionais. Esse cenário começou a se desenhar a partir das decisões dos últimos governos, que, ao priorizarem um desenvolvimento rápido e imediato, não adotaram medidas pensando nas gerações futuras. O resultado disso é que está sendo negado aos jovens de hoje o direito de terem um futuro sem violência, com emprego e previdência e com o meio ambiente preservado.
A disputa de interesses corporativos não traz projeto nacional; traz a repartição do pouco que aí temos, cada um dos grupos querendo puxar mais para si. E aí vem a necessidade de se endividar para atender a todos, que foi o que os últimos governos fizeram. Para não dizer que os recursos não davam, para não escolher lados, ou para não conciliar, criando uma coesão nacional, os governos daquele momento preferiram prometer tudo para cada categoria, para cada grupo.
É difícil dizer. Quatro anos é muito tempo. Mas uma coisa é certa: a crise pela qual passa a esquerda no Brasil se deve ao fato de a socialdemocracia não representar mais o “novo” na sociedade. Outros segmentos também não representam inovação na política, mas a esquerda tinha obrigação de assumir este papel. O campo ideológico da esquerda precisa evoluir suas ideias, apegar-se mais a projetos de sociedade do que a siglas, além de defender mais sonhos do que sindicatos e mais revoluções do que reivindicações. É necessário dar coesão social e perceber a importância da educação.
Para voltar a representar o novo é necessário defender a ética na política, sem corrupção de valores nem de prioridades. É preciso ainda propor uma política econômica eficiente e fazer uma sociedade sem pobreza, sem nenhum cidadão abaixo de um piso social. A democracia também deve ter mais interatividade e participação popular, com respeito às minorias e tolerância com as diferenças culturais.
Investir em alta tecnologia, com respeito ao meio ambiente, faz parte desta nova política que precisa ser defendida. Ser de esquerda ou de direita não tem a ver com partidos políticos.
Além de ficarmos prisioneiros das ideias velhas, esquecemos de sonhar utopias novas e achamos que ser de esquerda é ser do partido X ou Y, ser de direita é ser do partido Z ou D. Não: ser de direita ou ser de esquerda é ter concepções diferentes. Primeiro, indignação com a realidade; segundo, sonhos de um mundo melhor; terceiro, querer construir esse mundo melhor pela política.
Parabéns, meu irmão! Um TFA!
Obrigado!