Conversa e últimos dias da exposição “Boca que tudo come”, de Rafael Bqueer, na C. Galeria.
Na próxima terça-feira, dia 12 de julho, às 19h, será realizada uma conversa gratuita e aberta ao público com a artista Rafael Bqueer, na C. Galeria, no Jardim Botânico, onde a artista apresenta a exposição “Boca que tudo come” até o dia 15 de julho.
Conhecida por trabalhos de performances, fotos e vídeos, a artista criou, pela primeira vez, esculturas e objetos tridimensionais, que são apresentados na mostra, que tem curadoria de Paulete Lindacelva. As obras foram criadas este ano, inspiradas no carnaval, mas também se desdobram em temas que a artista já vinha trabalhando, como o universo Drag Themonia e a luta por questões raciais e de gênero.
“Meu trabalho percorre o universo das escolas de samba e da cultura drag. Estes novos trabalhos trazem esse universo da fantasia, dos adereços, da maquiagem. É como se eu tivesse tirado esses elementos do corpo, dando a eles uma nova forma”, diz Bqueer. “Sinto este trabalho como uma prática de desuniformizar, de criar também uma trama de propósitos, de refazer os tecidos da linguagem com nós”, acrescenta a curadora.
As obras são compostas por paetês, pedrarias e tecidos diversos, elementos que fizeram parte do carnaval de 2020 e foram doados pela escola de samba Grande Rio para a artista. “As alegorias exuberantes dos barracões são transportadas para a galeria como alegorias da própria língua e confirmam sua presença no trabalho como algo vasto de muita suntuosidade e de potencial transformador do material”, ressalta a curadora Paulete Lindacelva.
Muito ligada ao carnaval, Bqueer foi destaque da escola campeã deste ano, cujo tema foi Exu, que também inspirou a artista na criação das novas obras. “O desfile da Grande Rio deste ano foi uma das principais referências para a criação de vários trabalhos e também do título da exposição, em referência a Exu. Mastigar os universos e vomitar um novo projeto”, conta a artista, que começou sua história com o carnaval em Belém, onde trabalhou em diversos desfiles, incluindo o da Império de Samba Quem São Eles, uma das maiores agremiações paraenses, além de ter trabalhado em diversas escolas cariocas dos grupos D, B e A.
“É a gênese e uma boca com fome que não se sacia. Pela boca de Exu tudo passa. A fome de Exu não cessa, pois é pela sua boca que tudo acontece, conflui, compartilha. Na boca de Exu se instaura o mistério de todo acontecimento vivo. Engole para devolver de maneira ambívia! O que ultrapassa a ideia de antropofagia, pois é muito mais antigo e é na diferença que o mistério acontece”, ressalta a curadora.
Os trabalhos também abordam a questão do racismo, trazendo suas experiências com os desfiles das escolas de samba, arte drag e a cultura de massa das periferias para questionar os símbolos eurocêntricos de poder, bem como a ausência de narrativas afro-brasileiras e LGBTQIA+ na arte-educação e em instituições de arte.
Paralelamente a seu trabalho como artista visual, Bqueer tem um trabalho como drag queen e é uma das fundadoras do coletivo paraense Themônias. O grupo, formado em 2014, reflete, já no nome, a estética distante do padrão das drags luxuosas e subverte o fato dos corpos LGBTQIA+ terem sido historicamente demonizados. “Isso tudo também está presente nesses novos trabalhos, a estética da monstruosidade, do exagero, do brega”, ressalta Rafael Bqueer, que foi selecionada pela Bolsa ZUM 2020, do Instituto Moreira Salles, com uma série de quatro curtas-metragens do projeto Themônias, que tratam da cena drag-themônia amazônica.
SOBRE A ARTISTA
Rafael Bqueer (Belém/ Pará, 1992. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo) tem formação em Artes Visuais pela UFPA. Trabalha com múltiplas plataformas, como fotografia, vídeo e performance. Em seu trabalho, investiga o impacto do colonialismo e da globalização por meio de ícones da cultura de massa recontextualizando as complexidades sociais, raciais e políticas do Brasil.
Participou de exposições nacionais e internacionais, destacando: “Against, Again: Art Under Attack in Brazil”, Nova York (2020), e a individual “UóHol”, no Museu de Arte do Rio (2020). Artista premiada na 8º Edição da Bolsa de fotografia da Revista ZUM – Instituto Moreira Salles (2020) e na 7º edição do Prêmio FOCO Art Rio (2019). Participou da 6º edição do Prêmio EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtake (2018) e da 30ª edição do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo- CCSP (2020).
Atualmente, além da exposição individual “Boca que tudo come”, na C. Galeria, a artista também participa das exposições coletivas “Crônicas Cariocas” e “Enciclopédia Negra”, no Museu de Arte do Rio (MAR), “Zil, Zil, Zil”, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (RJ) e “Misturas”, no Galpão Bela Maré (RJ).
Suas obras fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e Museu do Estado do Pará (MEP).
SOBRE A C. GALERIA
A C. Galeria é uma galeria de arte contemporânea que, através de novas ideias e formatos, contribui para uma nova forma de fazer e pensar o colecionismo da arte. Dirigida por Camila Tomé, a galeria surgiu em 2016 e está localizada no Jardim Botânico onde desde então apresenta um programa que auxilia e desenvolve nacionalmente e internacionalmente a carreira de seus artistas representados. Através de seus artistas e seu programa, a C. propõe projetos plurais de arte contemporânea e abre espaço para discussões sobre ativismo, arte e vida.
A C. Galeria representa os artistas Bruno Weilemann, Diego de Santos, Eloá Carvalho, Emerson Uýra, Laura Villarosa, Marcos Duarte, Maria Macedo, Paul Setúbal, Piti Tomé, Rafael Bqueer, Ruan D`Ornellas e Vítor Mizael.
Serviço: Conversa com Rafael Bqueer na C. Galeria
12 de julho de 2022, às 19h.
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