Quando a ética médica diz adeus!
Existe uma piada entre um médico e um advogado que é mais ou menos assim: “O advogado fala para o médico: – Você diz que eu não roubo e eu digo que você nunca erra”. Essa piada de salão, um tanto quanto maledicente, não se aplica a todos os profissionais, apenas àqueles que tentam obter vantagens, se aproveitando da fragilidade dos clientes e, dependendo do caso, até realizando crimes. Em menos de um mês três casos médicos ganharam espaço na mídia e colocam a ética, em segundo plano. O primeiro foi o do médico anestesista que estuprou a paciente dentro do centro cirúrgico, na presença de toda a equipe médica e de enfermagem. Nesse caso, quem tomou a atitude de denunciar o crime foram os enfermeiros que, com o auxílio de um celular, filmaram a ação do médico. Após a denúncia, o CREMERJ agiu rapidamente, suspendendo o médico de suas atividades e ganhado o apoio do CFM. Já o segundo caso médico foi de um ginecologista, do interior do Ceará, que fez do seu consultório um covil. Segundo o relato do Ministério Público do Ceara, ele realizava abuso sexuais dentro do consultório e o que se sabe até agora é que o médico cumpre prisão preventiva. O Ministério Público do Ceará segue atuando nessa ocorrência. Já o terceiro caso é tão grave ou mais que os outros. O que agrava o terceiro caso é a sua reincidência. O autor fora preso por 30 dias, em 2010, mas atualmente, encontrava-se livre para realizar novos procedimentos. Na linguagem popular, continuava trabalhando. A meu ver existe uma condescendência maior nesse caso do médico Bolívar Guerrero Silva.
Linkezine recebeu uma nota oficial do CREMERJ, segue ela:
Sobre o caso Giovanni Quintella Bezerra, segue nota abaixo:
“O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) aprovou, em plenária, nesta terça-feira, 12 de julho, a suspensão provisória do médico Giovanni Quintella Bezerra, após ter acesso às imagens gravíssimas de estupro de uma paciente. Com isso, ele fica impedido de exercer a medicina em todo o país. A medida é um recurso para proteger a população e garantir a boa prática médica. Em paralelo, está sendo instaurado, no Cremerj, um processo ético-profissional, cuja sanção máxima é a cassação definitiva do registro.
‘Firmamos um compromisso com a sociedade de celeridade no que fosse possível e essa suspensão provisória é uma resposta. A situação é estarrecedora. Em mais de 40 anos de profissão, não vi nada parecido. E o nosso comprometimento não acaba aqui. Temos outras etapas pela frente e também vamos agir com a celeridade que o caso exige’, afirma o presidente do Cremerj, Clovis Munhoz.”
Sobre o caso Bolívar Guerrero Silva:
“Tendo conhecimento do caso pela imprensa, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional.”
“O Cremerj informa que, em relação a processos éticos, Bolívar Guerrero Silva já foi punido anteriormente pelo Conselho com a suspensão do exercício profissional por 30 dias. Consta também, em nome dele, um processo ético e uma sindicância.”
Entenda que essa nota é branda por demais quando se fala “já foi punido anteriormente”. Bolívar Guerrero, em 2010, já fora preso acusado de aplicar um medicamento para preenchimento facial, sem registro na Anvisa, além de usar outros produtos falsificados. Como se isso não fosse suficiente, em 2016, consta a morte de uma paciente durante uma lipoescultura. Agora, ele é acusado de manter uma paciente em cárcere privado no Hospital, sem que a paciente possa ter acesso à família.
Pelo visto, existe uma maior tolerância entre o Conselho e o Médico. Situações como esta, de Bolívar e Quintella precisam ser apuradas com agilidade e eficácia, para que se possam obter respostas rápidas e contundentes. Uma suspensão de 30 dias não vai apagar o estrago deixado pelo médico, é como curtir férias, quase um prêmio. As punições para médicos que comentem crimes têm que ser mais severas. A ética precisa prevalecer, afinal médico mexe com vidas de pacientes que vão ao consultório porque precisam resolver seus problemas de saúde, podendo ser mental ou corporal, na verdade isso não importa muito. O que importa é o paciente ser ouvido e respeitado, para isso que é necessário falar em ética.
Gente, esse caso se superou! Como pode uma coisa dessas!